quinta-feira, 17 de março de 2011

17.

PS: esse texto foi um rascunho que eu decidi postar. Não está revisado/bem redigido.

As areias moviam-se lentamente com o vento do deserto. A figura coberta de panos caminhava pelas dunas, sob o crepúsculo daquele dia. Logo a noite viria, quebrando o calor escaldante com o frio implacável de seu manto negro. Através das poucas estrelas já visíveis ele se guiava.
No silêncio inóspito daquele lugar, seus passos firmes eram suprimidos pela dificuldade do terreno. Sua respiração estava acelerada, seus olhos determinados brilhavam, acesos como archotes verdes. Queimavam pela vontade de vê-la; pela vontade de tê-la. O cabelo negro como as escamas da cobra que o ferira açoitava-lhe o rosto dourado do sol, fazendo-o se contorcer numa expressão dura - o veneno já começava a dificultar sua visão. Seu corpo rijo sempre fora forte, mas não resistiria mais que algumas horas. O suor fazia os panos de algoz grudarem em sua pele fervente, tendo o coração acelerado.
A dor chegou até seus pulmões.
Arqueando as costas, onduladas pelos músculos como as dunas do deserto, ele arreganhou os dentes num grunhido visceral.
Faltava pouco. Faltava muito pouco, mais alguns quilômetros e estaria no Caravanserai, o albergue dos forasteiros das areias. Estaria seguro lá, receberia ajuda para continuar.
Sua respiração foi tornando-se rarefeita, a visão cada vez pior, até que caiu de joelhos. Já delirava, perto da morte, quando uma outra forasteira o encontrou. Tinha o rosto infantil, apesar de ter quase a mesma idade do rapaz, que ela deduziu ter seus vinte e três anos. A moça tinha a pele queimada, olhos negros como tição e cabelos curtos, declarando que era livre.
Ela o virou, tirando os panos de sua cabeça.
O coração deu um solavanco. Como era bonito o moribundo.
Derramou água sobre sua boca e viu que ele não reagiu. Delirava.
Procurou pela picada de cobra, que logo encontrou. Já vira muitos casos desse em sua vida pelo deserto. Amarrou um pedaço de pano como torniquete e fez o melhor que pôde para extrair um pouco do veneno, temendo que fosse tarde demais. O fez mastigar ervas que sempre carregava e depois de algum tempo, o rosto suado do moribundo foi se acalmando.
A forasteira montou sua barraca, que trazia no camelo que roubara há pouco tempo. A noite era fria demais e ele pesado demais para ela carregar.
Quando o frio da noite caiu, eles já residiam, protegidos, dentro da barraca. Ela temia que, quando ele acordasse, roubasse suas coisas, então não dormiria. Não conhecia o homem que ajudara e não era estúpida.
Ela apoiou a cabeça dele sobre alguns panos, e o cobriu com um cobertor que sempre levava a mais. Observou-o enquanto dormia e sentiu o rosto sorrir.
Ele não lhe parecia ser ruim. Era bem afeiçoado, não possuía cicatrizes e não carregava ervas básicas para sobreviver no deserto, levando-a a concluir que era alguém novo naquele inferno móvel.
Suas mãos tocaram a testa dele, checando a temperatura.
Dos lábios do homem saíram um nome.
Uma mulher.
Ele chamava por uma mulher.
O coração da foragida afundou, fazendo-a se sentir completamente boba. Não tinha porque ficar triste. Não o conhecia, não queria e não iria. Não seria de ninguém.
Afastou-se, saindo da barraca para o frio cortante de graus negativos. Caminhou um pouco na noite. Seus olhos escuros leram as estrelas, suas companheiras de viagem, procurando a constelação de Vulpecula, a Raposa. Diziam que, quando se encontra o amor verdadeiro, aos seus olhos essa constelação, sempre perdida entre tantas outras, brilha intensamente.
Não foi preciso procurar demais. Estava lá. Fulgurava como ela nunca havia visto antes.
A moça apertou os lábios e balançou a cabeça, voltando a barraca. Partiria ao amanhecer, pois a febre dele já havia diminuído. Chegaria ao Caravanserai e indicaria o lugar que o deixara, para que lhe enviassem ajuda.
Ele nunca saberia que ela o ajudara. Que salvara sua vida.
Que havia tido seu coração, ainda que não fizesse nada para isso.
E teria a eternidade para tentar esquecer também.

domingo, 6 de março de 2011

[endereço não encontrado]


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> Olá,
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> Com amor,
> a Outra Parte.


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