sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O que tiver que ser será?

Como aceitar o tão conhecido "se tiver que ser, será"?

Admito que no começo eu achava reconfortante. Certo. Uma justiça universal que deve existir, se nada é por acaso e tudo está interligado. E, olha, lá no fundo, eu ainda acredito nisso. Mesmo.
Mas é difícil aceitar o que não é pra ser, quando é tudo que você queria que fosse. 
Quando é tudo que você sempre esperou, mas de uma forma torta. De uma forma em que os sacrifícios seriam altos, mais altos do que eu poderia pagar ou aguentar (assim imagino). Isso te põe num xeque-mate, de acreditar na Justiça, e aceitar que o que aconteceu é tudo consequência de atos seus. Não só do tal "destino", que não é predestinado e que pode ser mutável. 
Por isso eu me pergunto: quando sabemos que devemos lutar? Quando nasce o sentimento de "isso é meu, ninguém vai me tirar"?
Eu realmente não sei. Nunca senti. Só sei que aprendi, e muito, com as conjecturas que preenchem minha cabeça noites e noites a fio.

Nos últimos meses, devo ter envelhecido 10 anos. E isso é bom, porque vida é movimento, é processo, é mudança. Se eu não tivesse passado pelo que passei, ainda estaria estagnada num achar que não corresponde a realidade. Não que eu vá mudar meus princípios, mas vejo uma parte mais funda do ambiente e do momento em que vivo: a juventude é realmente um grande clichê. E eu faço parte desse grande clichê - temporariamente, por enquanto, é transitório.

Portanto, eu preciso saber dessa juventude. E olha, eu aprendi. Muito. Sobre muitas coisas.
E uma dessas coisas foi que muitas das coisas que fazemos são efêmeras e deverão deixar de ser. Pelo menos, pelo que tenho visto, para mim. Para outras pessoas eu não sei, elas parecem conseguir se apegar mais, se envolver mais, e conseguem fazer mais falta para os outros, mesmo que essa falta seja passageira. 
Mas não para mim. Para mim, foi dado um desafio, que eu ainda não sei qual é. Aceitar? Lutar? O que eu faço quando não cabe a mim a decisão maior? 

Eu sempre acreditei que seria diferente comigo. Que, por achar que merecia, realmente merecia. Sem turbulências, sem problemas. Mas as vezes, pra chegar aonde queremos, o mal tempo é necessário.
E aqui estou. Aguardando a tempestade passar. Aguardando minha hora chegar. Aprendendo a jogar, aprendendo a fortalecer o invólucro, treinando a impessoalidade para quando precisar dela. Colocando o coração um degrau mais alto para proteger ele da água que invade o peito quando chove.

E, se tiver que ser, eu vou fazer ser. Ah, se vou.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

33.

Ouça o vento lá fora, fustigando as folhas das faias onde as fadas dançam. Há vida lá fora, há vida aqui dentro. Há vida. Como um pedaço de pano rasgado, meu discernimento está leve e pode ir com o sopro da noite. Dançar com as fadas, mergulhar com as náiades  ou voar com os silfos. E apesar de tudo, ainda tenho minha mente - extensão poderosa de um corpo que é casca, e que guarda um espirito que tenho certeza ser mais velho do que muita gente aqui.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

29.

Sabe que tem gente que entra na nossa vida pra mudar alguma coisa,
E acaba levando um pedaço da gente junto. E acaba deixando um pedaço quebrado deles com a gente também, oras.
As vezes é porcelana fina: quebra fácil e a gente cuida com muito cuidado; as vezes é barro já queimado, muitas e muitas vezes, escuro, áspero.

Esse tipo de peça a gente encontra aos montes.
Eu não quero me tornar mais uma fazedora de cerâmica machucada e desgastada pelo fogo.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

28. Ode a Paixão

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Ah vá a merda, seu porra louca do caralho.

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segunda-feira, 13 de maio de 2013

27.

Eu acariciei a superfície do espelho, a palma da mão deixando um rastro quente e embaçado por todo meu reflexo. Estava lá, distorcida pelo calor, pelo toque, toda minha feição perdida entre as gotículas de suor.
Aos poucos, voltei a ser discernível. Mas a trilha dos meus dedos ainda transparecia, cortando o reflexo de um ponto a outro de meu rosto. 
Franzi o cenho. Peguei um batom - um daqueles que as pessoas usam para me descrever - e pintei meu coração em escarlate, na superfície polida a minha frente. 
Sorri. E escrevi ao lado "Um dia eu te encontro."
E os caminhos de outros toques vão desaparecer da minha imagem, tenho certeza.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

26.




Sopravam delicadamente, as pontas de metal cristalino no ar. 
Uma a uma, suas cordas sussurraram a melodia tranquila da noite pra dentro das cortinas do meu quarto, que embaladas pelo som também dançaram. Pano branco, macio, imaculado, espanou algumas cinzas da fumaça do incensório; as brasas lucilaram em rodopios rápidos contra a escuridão parcial. As sombras que a Lua forçava a entrar tocavam meu rosto na escuridão; silhuetas das arvores a distancia estavam aqui, como se não houvesse tantos e tantos metros entre nós. Assim eu me peguei pensando: "Ah, silhuetas de sombra significam luz, em algum lugar, e algo concreto, entre o ponto final e o inicio".
 Mas do fim, já se sabe. 
Sombras dançam sobre um rosto. E, bem, o rosto não é o seu — que já acomoda outra luz em sua superfície. Luz por luz, eu também fui. Eu também projetei suas sombras em alguma coisa; sombras essas que de tamanho eu pouco sabia reconhecer, afinal, quem saberia? Projetei suas sombras com toda a luz que consegui. Mas as luzes variam entre si. Lânguida e delicada como chama de vela, sedutora e dúbia — ah, essa não mostra o escuro do objeto; essa mascara e adula. Mas essa chama apaga. Acaba. Cansa do pavio, cansa da cera. Não existe, e deixa a sombra ser o que bem entender — acho que era desse tipo de luz que você estava procurando.

Luz por luz, prefiro ser como a Lua.


segunda-feira, 15 de abril de 2013

25.




Se você ganha uma rosa,
E dá a ela o nome de Rosa,
Se vier a ter uma outra
(pode ser que a primeira não resista a chuva forte)
E se essa flor trazer aos teus lábios o mesmo Rosa
Quando murmurar para ela baixinho, no meio da noite
No frio, para acalentar as pétalas
Lembrará da outra Rosa que um dia esteve ai?