terça-feira, 2 de abril de 2013

24.

Estava correndo tão rápido; os pés eram borrões no entardecer. O vento assoviava nos ouvidos, o coração batia nas têmporas, e o sorriso louco e desvairado lhe esticava o rosto.
Urrou de raiva, de frustração, de desejo. O grito ecoou no vazio do descampado, sendo ouvido apenas pelas nuvens no céu alaranjado. 
Gritou de novo, juntando as mãos no rosto e retorcendo-se de força. Aquilo saia de suas entranhas, do fundo mais fundo de si. Tirou o cabelo do rosto com um movimento brusco e rodou, procurando acusadoramente ao seu redor o culpado. A respiração entrecortada embalou mais um grito, as mãos arranharam o ar, atacando o que não fazia sentido em sua cabeça. Tentou cavar para fora de si aquilo, bateu os braços para exaurir o que lhe tomava a cabeça.
Caiu de joelhos no chão de relva verde e macia. O sorriso enlouquecido ainda ali, os olhos estalados num grande arco psicótico. Riu algo que parecia um lamento histérico.
- Grande fracote - riu de si mesma, apertando a cabeça entre as mãos. - Louca. Imbecil. Que decepção.
"Que decepção" ecoou o ar.

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