
Os destroços do navio zuniam na água do mar revolto. As explosões avermelhadas na superfície rugiam como trovões, enquanto o corpo inerte de James deslizava para a escuridão do fundo. Com seus olhos incrivelmente azuis fechados, ele apenas ouviu os pedaços de metal cortando o mar ao seu lado. O navio de guerra fora pego de surpresa durante a noite, e James sabia que não retornaria para casa. Vira coisas que lhe trariam pesadelos para o resto de sua miserável vida e, se morresse, a família seria indenizada no futuro. Algo muito melhor do que receber um injuriado e amargo aleijado de guerra. Um fantasma do que fora.
Mais uma explosão eclodiu acima dos corpos que afundavam. Pensou na vida amarga que levara, no casamento arranjado, no filho que não veria crescer, e percebeu que os sons iam ficando para trás.
Morrer no mar, pensou ele, quanta coincidência, Emily.
Ao recobrar os sentidos, ele não ouviu explosões. A água estava mais calma, mais brilhante e clara. E alguém que o vinha assombrando há muito tempo começou a ganhar contornos. Seu coração deu um grande solavanco. Vestida como da ultima vez que a vira, ela não envelhecera nem um dia. Congelada em seus dezenove anos.
— Emily?
— Você está tão adulto — O olhar triste de Emily varreu todo seu rosto. — Faz tanto tempo assim?
Tudo estava tão lento. Tão letárgico, nem se mover ele conseguia.
— Eu estou...?
Ela balançou a cabeça negativamente.
— Então, onde nós...?
— No meio. — respondeu ela, e para ele bastou.
— Perdoe-me — murmurou, depois de alguns segundos. E continuou lentamente, como se falar consumisse um grande esforço. — Se eu tivesse enfrentado minha família... Se eu não tivesse deixado você partir naquele navio — seu corpo flutuou um pouco para cima, afastando-se dela. — Você poderia estar comigo. Poderia estar viva.
Emily apertou os lábios cheios, balançou a cabeça e tocou em um colar de metal que trazia no pescoço.
— Eu vaguei nesse oceano por muito tempo, até perceber que não iria te encontrar. E mesmo agora que encontrei, não posso te levar comigo — sorriu Emily, tristemente. — Você tem uma família. Precisa ver seu filho crescer. — e ela abriu o colar de metal que ele lhe dera quando era viva. Uma musica nostálgica encheu o mar vazio. — Eu sempre o tive comigo.
— Como...? — e antes que ele pudesse falar, uma pressão forte no peito o fez parar. Vozes estranhas começaram a distraí-lo. Sua vista começou a ficar borrada.
Emily arregalou os olhos escuros e infantis. A diferença entre os dois era grande agora; James estava quase na superfície.
— Meu tempo acabou — murmurou ela, e completou: — Eu te amo tanto James. Você é tão forte. Eu não agüentaria viver sabendo que você morreu. Por isso, eu quero que você viva. Não pode deixar de viver por mim.
James não conseguia mais enxergá-la. Logo, não conseguiria ouvir sua voz.
— E você? Como eu vou te encontrar?
O mar brilhante tornara-se negro. Só a silhueta lucilante de Emily se deixava entrever. Distante. Sozinha. Até sua musica era quase inaudível.
— Enquanto o mar existir, eu estarei aqui.
E James tossiu uma grande quantidade de água, dentro de um bote aliado. Depois de se sentar e receber os parabéns por estar vivo, ele tocou a escura e fria com os dedos pálidos e sorriu.
— Espere por mim.
lindoooo!!!!
ResponderExcluirseus contos são perfeitos